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26-11-2024

É verdade!... Está aí à porta mais um. Em meados do século XX, o Natal era já por assim dizer, a oportunidade para reunir as famílias. Era o tempo em que eram pequenas as casas e numerosas essas mesmas famílias, ainda assim, sobrava sempre um lugar para quem chegava. A ceia, era o momento mágico que matava fomes ancestrais e a saudade das ausências. Na lareira, fumegavam panelas cheias, cujos odores, fundidos com os que vinham do sobrado, traziam à memória os sabores da infância. A candeia e o candeeiro, ambos a petrólio, iluminavam os trajectos domésticos e projectavam as sombras dos familiares reunidos no "concilio".

Eram os tempos em que se estranhava o milagre que permitira tantas postas de bacalhau, já que os repolhos e as batatas os davam a horta e as leiras trabalhadas a preceito. Os frutos – esses, eram secos no tempo devido, e as rabanadas, a aletria e toda aquela variedade de guloseimas eram fruto dos ingredientes próprios e dos segredos herdados, a que o lume brando da lareira requintava o sabor.

Não deixava por isso de ser estranho que tanto desse, quem tão pouco tinha, e negasse, avaro, quem muito podia. Eram esses os tempos e ainda são assim, as pessoas que dele restam. Ceavam primeiro as crianças, por questão de espaço e de impaciência; depois passavam ao "caldo" os mais velhos, antes de se saciarem no bacalhau, repolho e batatas, regados com azeite.

Uma vez saciados e só depois de esgotado o vinho na caneca ou no pipo que dava volta à mesa, se falava no menino Jesus que "raramente trazia" os presentes que a garotada ansiava, mas que ainda assim se conformava com o que lhe pudesse caber em sorte. Entretanto, os adultos sugeriam-lhes a cama enquanto os sócos rodeavam a lareira à distância conveniente do lume que ainda crepitava. O sono acabava por vencê-las, adormecendo primeiro os mais pequenos que as mães e as avós, íam "depositando" em camas improvisadas. No pouco espaço disponível havia ainda lugar para o presépio, uma ingénua encenação do mito cristão, que o pinheiro oriundo de outras culturas, havia de substituir num prenúncio da globalização, para acabar feito de plástico, coberto de bolas coloridas. De manhã, à medida que acordavam, os miúdos corriam para a chaminé, ansiosos por encontrar as prendas e exultar com os presentes.

Hoje, o Menino Jesus que então descia pelas chaminés, foi trocado pelo Pai Natal a viajar de trenó puxado por renas, em terras onde só a neve fazia jus à nova fábula que roubou o encanto dos musgos, da serradura, do algodão em rama e dos animais que rodeavam o menino de barro, deitado em berço de palha. Nos sócos ou botas onde então cabiam os carrinhos de madeira que faziam as delícias das crianças, o terço para a tia ou para a avó, ou ainda a onça de tabaco para o avô, não cabem hoje os jogos de computador esperados sem ansiedade, nem os presentes embrulhados em papel reluzente. Mudaram-se os tempos. Do Natal que havia, resta a recordação das crianças que fomos...

BOAS FESTAS

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